27.03Não é preguiça, é falta de tempo 1: de Eduardo Coutinho ao Radiohead
Assisti hoje ao novo longa de Eduardo Coutinho, “Moscou”, em uma cabine do Festival É Tudo Verdade. Admiro o cineasta a ponto de ter feito de “Edifício Master” (2002) o tema do meu trabalho de conclusão de curso na graduação em Jornalismo. “Moscou” dá prosseguimento à investigação da mecânica da encenação que Coutinho começou - ou escancarou de vez - no maravilhoso “Jogo de Cena” (2007). Agora, em vez de encenar histórias de pessoas comuns, o diretor pega o texto clássico de “As Três Irmãs”, de Anton Tchecov, e o entrega ao Grupo Galpão de teatro. A meta é encenar a peça em um período de três semanas. Os olhos de Coutinho, mais uma vez, estão voltados para os ruídos dessa encenação (a equipe de filmagens não é ignorada em suas observações) e para a tensão criada entre as experiências pessoais dos atores (externadas em um exercício logo no começo do filme) e o texto de Tchecov. Vira teatro filmado da metade pra frente, mas, dentro dos últimos trabalhos do cineasta, é uma sequência das mais naturais, lógicas e interessantes.
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Já viu o trailer de “Where the Wild Things Are” (ou “Onde os Monstros Estão”, no Brasil), novo filme de Spike Jonze?
É baseado num livro infantil americano, daqueles cheios de ilustrações, publicado em 1963. Jonze se uniu a Dave Eggers para escrever o roteiro e chamou o Lance Acord (”Maria Antonieta”, “Encontros e Desencontros”) para dirigir a fotografia. Eggers, vocês sabem, é aquele mala que fundou a finada revista “Might” e publicou uma (mais ou menos) autobiografia chamada “Uma Comovente Obra de Espantoso Talento” em 2000. Ganhou elogios de meio mundo, mas não conseguiu me comover com tanta autocomiseração. A prévia, ainda assim, é muito bonita e empolgante como um trailer deve ser. E usar “Wake Up”, do Arcade Fire, como trilha de fundo foi lance de gênio.
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Just a Fest São Paulo. Então. Meio tarde para comentar os shows, mas algumas impressões rápidas: 1) Los Hermanos: que esperassem mais dois anos para um retorno mais quente e com membros mais interessados no ofício. Deu pra berrar e se emocionar com “Último Romance”, mas Marcelo Camelo não conseguia disfaçar o incômodo (mal aí se gritei alto demais, Marcelo). Dizem que a banda levou uns R$ 250 mil pela apresentação - dinheiro mais fácil do século. Assisti com pessoas queridas, com quem eu ouvia a banda quando tinha uns 18, 19 anos, o que deu sabor menos amargo à coisa. 2) Kraftwerk: primeira vez que os vejo ao vivo. A Chácara do Jockey parecia grande demais para os quatro, mas foi bom assistir ao show antes que ele vire peça de museu (não falta muito, creio). 3) Radiohead: 30 mil pessoas em silêncio esperando “Exit Music”. 30 mil pessoas querendo mais “Paranoid Android”. 30 mil pessoas acompanhando os grunhidos de Thom Yorke na esquizofrênica “Idioteque”. Banda voltando feliz para um terceiro bis. Acho que testemunhei um marco geracional. E, pela primeira vez, não me sinto culpado por utilizar tantos superlativos. (Para uma análise aprofundada, clique aqui. Para uma crítica contundente à organização porca do festival, aqui)
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Jonas Brothers. Bonzinhos, cristãos, virgens, inofensivos. Censura dos shows no Brasil: 14 anos. Oasis. Beberrões, cocainômanos, brigões, blasfemos. Censura dos shows no Brasil: 12 anos. Alguém entende?
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Entrevistei Marcelo Tas, apresentador do “CQC” para o Abril.com. Propus falar apenas sobre o Twitter e ele topou. Tas é um dos primeiros brasileiros a ser pago para twittar, promovendo o XTreme, serviço de banda larga via fibra óptica da Telefônica. Por conta disso, o cara foi bastante atacado por lá. Para ele, as reações são “… uma conversa de cachorro magro, de complexo de inferioridade, de quem não convive com a possibilidade do sucesso”. Desconfio que os ataques têm mais a ver com a péssima reputação da Telefônica do que com o pioneirismo da situação, mas vale ler o que ele tem para dizer antes de sair mostrando toda sua revolta dando unfollow por aí.
Curioso pelo filme do Coutinho. Supera o ‘Jogo de cena’?
March 29th, 2009 at 6:05 am
Acho Jogo de Cena mais bem resolvido, Tiagão. Mas “Moscou” funciona como um belo “passo além”.
March 29th, 2009 at 8:35 am
Para mim já está bom. Que ele tenha conseguido dar um “passo além” depois de ‘Jogo de cena’ já parece impressionante.
March 30th, 2009 at 4:04 am
Acho que no Brasil Where the Wild Things Are fica “Onde Vivem os Monstros” e não “Onde os Monstros Estão”
May 19th, 2009 at 2:54 pm
Espero ansiosamente pela estréia de “Where the wild things are”.
Vai ser fantástico!!!
June 19th, 2009 at 6:04 pm