28.11Quatro coisas que não foram ditas sobre Michel Gondry em SP
E então fui à coletiva do francês Michel Gondry no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, na manhã desta sexta. Gondry chegou ao país – com um atraso de quase três horas – para divulgar uma exposição baseada em “Rebobine Por Favor”, sem último filme.
Informações e serviço sobre as oficinas e a exposição, que abre na terça (2), eu publiquei lá no Abril.com.
Fora isso, há mais quatro coisas que eu acho que valem a pena serem contadas:
A primeira é que o MIS sempre me pareceu um museu pouco popular, no sentido mais, hmm, social do termo, e a impressão meio que se confirmou hoje, talvez à revelia do próprio museu: antes do início da coletiva, jornalistas puderam saborear quitutes preparados pelo restaurante Paris 6, onde Gondry assinará o livro da exposição na próxima segunda. Enquanto os coleguinhas se deliciavam com sanduíches, croissants, sucos e águas flavorizadas, um grupo de cerca de vinte crianças de uma escola da periferia paulistana observava a tudo com certa distância, como se houvesse ali uma vitrine separando os dois ambientes. Às 11h30 da manhã, a cena parecia saída diretamente do mais sórdido dos filmes de Sérgio Bianchi. Ninguém ofereceu comida para os moleques.
A segunda é que o sotaque de Gondry falando inglês é incompreensível. Meus conhecimentos de francês não ajudaram em nada: a entonação que ele dá a palavras, geralmente com ênfase na última sílaba, transforma inglês em grego arcaico.
A terceira é a que a exposição merece mesmo ser visitada, mas só se for para participar ativamente da oficina de criação de vídeos. Não deve ter muita graça perambular por lá e apenas assistir aos trabalhos dos outros. Se resolver ir até o MIS, entre no site, inscreva-se para os workshops e rode seu próprio filme nos cenários criados pelo diretor (as vagas são bem limitadas e já estão acabando). A proposta é se divertir metendo a mão na massa com os amigos para rodar tosqueiras ao estilo das feitas por Jack Black e Mos Def no filme.
Os cenários, 13 no total, são o máximo. Gostei principalmente do trenzinho em miniatura correndo sobre uma esteira, utilizado na filmagem de tomadas bem abertas de uma linha de ferro. Fora isso, ainda há um espaço que simula a cabine de um trem (com uma tela de LCD exibindo imagens de uma paisagem, para criar a ilusão de movimento), uma selva, uma “periferia”, um bar/mercearia, a locadora do filme (com roupas usadas pelos atores nas filmagens) e um brechó, onde você pode escolher o figurino que mais tenha a ver com seus personagens.
A quarta e última: sempre vi Gondry como um sujeito inovador, moderninho, especialmente por seus videoclipes (Chemical Brothers, Bjork, White Stripes, lista imensa) terem estabelecido padrões praticamente insuperáveis para a linguagem. Para minha surpresa, o francês se disse antiquado. Old-fashioned. Quase um carola. Ele contou que não deixa o filho jogar videogame – por temer que os jogos arruínem a criatividade do garoto – e que até reconhece o valor da tecnologia para a criação, mas acredita que ela raramente faz as pessoas se aproximarem fisicamente (o “senso de comunidade”, para ele, é algo bem importante).
Só depois parei para pensar que essa atitude antiquada se reflete perfeitamente na obra do cara. Gondry raramente usa efeitos especiais digitais. Quando precisa, o faz com a maior discrição possível (veja os de “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, por exemplo). Na maioria das vezes, ele usa animações, truques de montagem e efeitos ópticos relativamente simples para conseguir os efeitos desejados. O melhor exemplo que me vem agora é o clipe de “Let Forever Be”, dos Chemical Brothers, basicamente uma longa seqüência de ilusão de ótica.
Ou seja: dá pra sacanear o sotaque, detestar as peripécias visuais e narrativas do cara, dizer que ele é frio e o escambau. Mas acusá-lo de incoerência? Nope.
(fotos são do Marco Hovnanian - mais fotos da exposição estão lá no Flickr dele)
[...] Michel Gondry (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, The Science of Sleep) aproveitou a passagem por São Paulo para fazer uma jam session com cantora Cibelle no bar CGxAA, na noite de sexta-feira. Tocou [...]
November 29th, 2008 at 8:59 am
Deve ser bacana, e mesmo gostando bastante de Brilho eterno…. eu infelizmente acho que os filmes do Gondry em geral são muito mais interessantes como conceitos do que na prática mesmo.
Mesmo assim enxergo o cara como uma imensa força criativa que dia ou outro ainda solta uma OP.
November 29th, 2008 at 8:48 pm