02.11Kanye West, o pequeno príncipe do rap
Com 37 minutos de atraso, Kanye West surge deitado no palco, moletom amarrado na cintura, fingindo desmaio. Um enorme telão mostra estrelas brilhando. Uma tela menor, à frente, simula o cockpit de uma nave espacial. O computador da nave-mãe chama pelo rapper:
“Acorde, Sr. West!”
É assim, contando a história de uma viagem intergaláctica, que o astro do rap norte-americano dá início ao show paulistano de sua turnê “Glow in the dark”, primeira atração pop a se apresentar no Tim Festival 2008.
Kanye, como toda estrela do hip hop, não deixa de lado o folclore do gênero: egocentrismo, ostentação, mulheres tratadas como objetos, está tudo lá. Mas a roupagem de todos esses clichês é a de ficção-científica B, vagabunda. Uma salada de cultura pop que rappers em geral dispensam ou desprezam.
Kanye não.
Sozinho no palco (só ele, os telões e um cenário que simula uma superfície lunar, por uma hora e meia), o astro começa cantando “Good Morning”. Ele interage com o telão menor desenrolando a trama da viagem espacial. Após “Through the Wire”, o paredão visual do fundo falha e as animações com cara de descanso de tela do Windows 98 desaparecem por dois minutos.
Pouco depois de “Diamonds From Sierra Leone”, um dinossauro (Barney?) aparece no palco. Kanye finge que é engolido pelo bicho. Cai no chão. E começa “Can’t Tell Me Nothing” como se nada tivesse acontecido.
No pequeno planetinha em que o palco da “Glow in the dark” se transforma, o Pequeno Príncipe do rap é rei. “Você é a maior estrela no universo”, afirma o computador. A esta altura, muita gente concorda e outro tanto ri, não acreditando em tanta megalomania.
Solitário, o rapper reclama: “I just need some pussy” (“Eu só quero uma xoxota!”). Imediatamente, o telão mostra a figura de uma mulher curvilínea, seminua, fazendo caras e bocas e pintada de dourado. É a deixa para o hit “Gold Digger”, o primeiro a realmente empolgar o público.
Na seqüência, sucessos como “Good Life”, “Jesus Walks”, “Hey Mama”. Kanye então se senta, como se enfraquecido. O computador tenta reanima-lo: “Nós precisamos de você, Kanye. Você é a estrela mais brilhante do universo. Você pode brilhar no escuro”. Interagindo com os dois telões, o astro junta forças feito um personagem do anime Dragon Ball e, do alto de uma plataforma que parece decolar, começa “Stronger”, hit que sampleia um sucesso do duo francês de música eletrônica Daft Punk (do qual, percebe-se, Kanye não tirou inspiração somente para uma canção).
A volta do herói espacial para a casa é introduzida, claro, com “Homecoming”. “Touch the Sky” fecha a apresentação. Kanye então agradece ao público, diz que sua banda está atrás do telão (de longe, o ponto mais inacreditável de sua jornada espacial), e, já fora do personagem “Pequeno Príncipe”, apresenta “Love Lockdown”, primeiro single de seu novo álbum.
Como o tele-transporte ainda não foi inventado, o rapper sai discretamente pela esquerda do palco, meio trôpego. É o fim de sua ópera-rap de ficção-científica B.
(Publicado originalmente no Abril.com)
Welcome, beibe!
November 17th, 2008 at 1:27 pm
Bacana o blog, Diego. Vida longa a ele.
November 18th, 2008 at 3:02 am
Valeu, gente!
November 18th, 2008 at 2:12 pm
Grande.
November 25th, 2008 at 10:30 am